segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Babilônias da desconstrução


Minha vida se resumindo no proposto, no propósito, a face não vista por Cecília Meireles, a lógica de tudo que eu não me acostumei. A certeza de acordar, de levantar, de vestir, de comer, andar, dizer. O lado abstrato de viver uma rotina sem propostas ou perspectivas em quatro dimensões, sem dificuldade alguma de planejar o dia seguinte ou perder o sono pensando em algo novo que viveu.
Recordações que voltam a fazer parte de algo tão novo a ponto de parecer real, certezas impróprias de momentos saudosistas, dúvidas não esclarecidas que se marcaram com reticências no fim da página e as multidões de palavras e movimentos desnecessários como a memória anestésica do escuro da sua casa de bonecas.
A sensação de viver contando os segundos para a solidão, tendo que esta se resume em felicidade. Aprender a dar gargalhadas espontâneas forjadas, só para sair da desnecessária explicação da sua vida construída em pretérito perfeito, ou imperfeito, não faz tanta diferença.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Entre Julho e Agosto


E no meu enredo tipicamente romântico as horas não devem passar, e só passam quando a vontade de ficar é a unica existente; quando me olha com todo aquele brilho, quase sem piscar, querendo dizer tudo e de certa forma dizendo.
Se todos os dias fossem Sábado, eu deixaria de criar castelos nas nuvens e vê-los destruídos ou transformados com o sopro do vento.Seria como acordar sorrindo com a certeza de ver seu cabelo bagunçado no travesseiro ao lado do meu; se os seus olhos estariam abertos ou não, pouco importa, poder te abraçar e te beijar antes do café da manhã não se compara a um dia bom.
Mas ainda deixo seu lugar vago na cama, a fronha limpa e o cobertor esticado. Não preciso fechar os olhos para saber que esta olhando fixamente para mim.
O teatro continua cheio e todos ainda gritam nas cenas de beijo, mal escutamos as falas e eu sequer li a obra, mesmo o movimento dos seus pés me fazer parecer um bibelot, sua mão ainda aquece a minha e a peça poderia acabar ali, assim como os dias considerados 'bons'.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011


Tenho um Deus que conhece cada passo que dou, sabe dos meus pensamentos mais secretos, dos meus medos, que me dará um bom emprego, uma boa faculdade. Tenho um Deus que me dá motivos para seguir em frente, que me conhece como ninguém, que me impede de todo mal e me dá coragem para enfrentar os obstáculos que aparecem pela frente ou pelas costas. Um Deus que me faz forte, em que confio, um Deus fiel. E o mais inacreditável dentre todas as perfeições é o fato do meu Deus ser chamado de Autoconfiança.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Sinestesia e escapismo


Um caminho que me leve para o arco-íris, passagem só de ida para o paraíso, preciso de uma estadia na Lua, qualquer canto ou lugar onde se possa respirar ouvindo a pulsação, e não precisar pensar mais que o suficiente para criar algo útil ou reinventar inutilidades. Quero a canção do sol nascendo e o calor dos pássaros úmidos, quem sabe uma cabana com folhas de laranjeira na beira do rochedo.
Qualquer canto ou lugar que me tire do comum e da fragilidade e simpatia exagerada dos sorrisos cotidianos, das sílabas frias e bocas manipuladas que me dizem 'bom dia', qualquer pedaço de vento onde se possa observar sem ser denominado narrador ou espectador.