quarta-feira, 23 de junho de 2010

Calmaria


Preciso do mar e nunca precisei tanto desta calmaria.
Preciso da brisa e do êxtase de pisar na areia, da nudez das conchas ao vento e daquele Sol no fim da tarde.
De meia circunferência alaranjada por detrás das montanhas.
De barcos pesqueiros com suas redes e seus homens que saem sem saber o que os espera.
Preciso de um óculos escuro para olhar alto e agradecer tanta beleza, tanta luz, tanta força e renovação.
Preciso agradecer esta perfeição em que o homem não pincelou nem construiu.
Preciso olhar aquela imensidão azul, aquele horizonte.
Preciso dessa paz, preciso de todo esse amor e essa hospedagem na minha vida, para mergulhar e sair nova, deixar que as ondas levem meus problemas e preocupações para outro canto... longe mim.

sábado, 19 de junho de 2010

Vem


Eu sinto falta.
Falta da sua voz, do seu sorriso e do jeito como é comigo.Mas você sempre escolhe ser diferente. Eu não imaginava que mudaria minha vida dessa forma, como você conseguiu?
fazia tanto tempo que o cheiro de alguém não saia de mim...

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Camilo Pessanha

Passou o outono já, já torna o frio...
-outono do seu riso magoado.
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado...
-O Sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! águas do rio,
fugindo sob o meu olhar cansado,
para onde me levais meu vão cuidado?
aonde vais, meu coração vazio?

ficai, cabelos dela, flutuando
e, debaixo das águas fugidias,
os seus olhos abertos e cismando.

Onde ides a correr, melancolias?
- e refractadas, longamente ondeando,
as suas mãos translúcidas e frias...



Camilo Pessanha

domingo, 13 de junho de 2010

Aluísio Azevedo

Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca.

Aluísio Azevedo